29/05/18

CTB apresenta um Junho cheio de Teatro


A Companhia de Teatrode Braga (CTB) regressou da digressão à Ucrânia onde participou no Festival de Teatro Melponema Travyy, em Kherson, Mikolayv e Odessa, com o espectáculo JUSTIÇA, de Camilo Castelo Branco.
JUSTIÇA, na Ucrânia, no Festival de Teatro "Melponema Travyy" (foto: João Chelo)
A CTB continuará durante o próximo a mês a cumprir a programação a que se propôs na candidatura ao financiamento sustentado de apoio às artes da DGArtes. Assim, logo no dia dois, às 21h30, apresentará no Teatro Gil Vicente, em Barcelos, a mais recente produção criada a partir do texto de Mark Twain, DIÁRIO DE ADÃO E EVA. Espectáculo que estreou no dia 15 de Maio, com tradução, adaptação e direcção de Abel Neves.
Eva (Solange Sá) em DIÁRIO DE ADÃO E EVA (foto: João Vilares)
No dia 5 irá acolher uma produção da companhia de Valência, Arden Producciones, com texto e encenação de Chema Cardeña, MATAR O REI, sobre um lado oculto da História de Espanha. Um thriller medieval na Castela do séc. XV. No TheatroCirco, às 21h30. Um acolhimento no âmbito do Circuito Ibérico de Artes Cénicas.
MATAR O REI de Arden Producciones de Valência (foto: Juan Terol)
Logo a seguir, nos dias 6 e 7, também no Theatro Circo, a reposição de UM PICASSO, do autor norte-americano Jeffrey Hatcher. Uma encenação do director brasileiro Eduardo Tolentino de Araújo, com Rui Madeira e Solange Sá na interpretação. A trama decorre numa Paris ocupada, durante a 2ª Guerra Mundial, em que Pablo Picasso é convocado para um interrogatório conduzido por uma jovem agente da Gestapo, Fraulein Fischer. O objectivo é a autenticação de três quadros do pintor, confiscados aos seus donos judeus, a ser incluídos numa “exposição”, planeada pelo Ministro da Propaganda Nazi (Goebbels) para queimar “arte degenerada”.
Picasso (Rui Madeira) Fraulein Fischer (Solange Sá) em UM PICASSO (foto: Paulo Nogueira)
A comédia DIÁRIO DE ADÃO E EVA sobe a cena no TeatroRegional da Serra de Montemuro, no dia 17 de Junho. Espectáculo realizado no âmbito do Circuito ibérico de Artes Cénicas. Mark Twain escreveu o DIÁRIO DE ADÃO E EVA nos finais do século XIX, início do século XX. É uma narrativa literária que tendo sido polémica à época da sua publicação propõe uma visão humorada sobre o enlace amoroso dessas duas criaturas bíblicas.

De 19 a 21 de Julho, a CTB irá acolher, no Theatro Circo, dois espectáculos da companhia lisboeta, Teatrodo Bairro. O primeiro, nos dias 19 e 20, é a estreia de COLÓNIA PENAL, de Jean Genet. A colónia penal, o degredo, é um espaço idealizado, onde a morte ou a aproximação dela, se torna como tema sempre presente e liga todas as personagens. Este espectáculo, dirigido por António Pires, tem também, como parte integrante, um filme realizado por João Botelho.

O segundo espectáculo que nos traz o Teatro do Bairro é VANESSAVAI À LUTA, dia 21, às 21h30. Um espectáculo para maiores de 6 anos, escrito por Luísa Costa Gomes e dirigido por António Pires. O texto original (que faz parte do Plano Nacional de Leitura), escrito há 20 anos, trata a questão de género no sentido mais clássico do termo, dos papéis e dos estatutos atribuídos às mulheres tradicionalmente, e é a história de uma menina que não quer esse papel e quer ter uma metralhadora como o irmão.
VANESSA VAI À LUTA pelo Teatro do Bairro

Na cidadela dos transplantes, Beatrix visita António. A cidadela é um lugar de ciência avançada onde a medicina alarga o espectro da sobrevivência, aumentando a esperança de vida. António é um dos que foram escolhidos para sobreviver mais e melhor. Mas por que foi ele seleccionado e não outro? Qual será o preço? Na última semana de Junho, a CTB estreia ANTÓNIO E BEATRIX, de 26 a 28, no Theatro Circo e no dia 30, no Teatro Gil Vicente, em Barcelos, sempre às 21h30.

Escrito por Abel Neves e encenado por Rui Madeira, ANTÓNIO E BEATRIX é uma co-produção entre a CTB e o Teatro Tineretului de Piatra Neamt (Roménia). A interpretação fica a cargo da actriz romena Nora Covali e do actor moçambicano (dos quadros da CTB) Rogério Boane. A produção tem ainda o apoio do Instituto Cultural Romeno.

Mimarte – Festival de Teatro de Braga, que este ano decorre de 29 de Junho a 7 de Julho, vai já na sua 19ª edição. A CTB, à semelhança das edições anteriores, continua a colaborar com o Município de Braga na sua programação fazendo uso das excelentes relações que mantém com várias estruturas nacionais e estrangeiras. Este ano, traz quatro excelentes espectáculos que poderão assistir gratuitamente, no Rossio da Sé. O primeiro, dia 30, às 21h45, é um espectáculo do Centro Dramático de Évora – CENDREV encenado e interpretado por José Russo e Jorge Baião. ÑAQUE, OU SOBRE PIOLHOS E ACTORES, é uma obra divertida que gira em torno da temática da condição do actor, da sua posição na sociedade e desenvolve-se numa relação que este vai construindo com o público. Um acolhimento CTB no âmbito do Circuito Ibérico de Artes Cénicas.
José Russo e Jorge Baião em ÑAQUE, OU SOBRE PIOLHOS E ACTORES (foto: Paulo Nuno Silva)
Os restantes espectáculos são: ARIZONA (Teatro de Babel, México), O PÍCARO RUZANTE (Teatro Guirigai, Badajoz) e PERPLEXO (ilMaquinário Teatro, Ourense) que serão apresentados, respectivamente, nos dias 5, 6 e 7 de Julho, no Rossio da Sé, às 21h45.


18/05/18

CTB leva JUSTIÇA à Ucrânia


A Companhia de Teatro de Braga (CTB) viaja hoje para a Ucrânia para participar no Festival de Teatro “Melponema Travyy”, que decorre em Kherson de 17 a 26 de Maio.

Cartaz do Festival "Melponema Travyy"

A CTB apresentará o espectáculo JUSTIÇA de Camilo Castelo Branco, no dia 21, no Teatro Regional Academico M. Kulish, de Kerson, no âmbito do festival. Realiza, ainda, mais duas representações do espectáculo, nos dias 24 e 25, nas cidades de Mikolayv e Odessa, respectivamente.

Esta digressão resulta da parceria, já com cinco anos, entre a CTB e o Teatro Regional Académico M. Kulish que permitiu até à data a troca de 14 espectáculos diferentes em 12 cidades de ambos os países, bem como várias acções de formação.

Para reafirmar esta parceria decidiu criar-se uma co-produção entre as duas estruturas, a partir do texto “A Gaivota”, de Anton Tchekhov, que estreará em Março de 2020 no Theatro Circo de Braga, no âmbito das comemorações dos 40 anos da Companhia de Teatro de Braga. A estreia na Ucrânia ocorrerá no Festival “Melponema Travyy”, em Maio desse ano.

D. Inês (Eduarda Filipa) e Luís de Abreu (André Laires) em JUSTIÇA (foto: Paulo Nogueira)




17/05/18

CTB tem um dos maiores cortes no financiamento da DGArtes


Relativamente à notícia da Agência Lusa, partilhada por alguns órgãos de comunicação social (como, por exemplo, o Diário de Notícias) gostaríamos de esclarecer que, não obstante ser verdade a Companhia de Teatro de Braga (CTB) ser uma das quatro companhias, em termos globais, com maior financiamento, é também uma das duas companhias que para este quadriénio sofreram o maior corte comparativamente ao quadriénio anterior. A Companhia de Teatro de Almada teve um corte de 22% e a CTB um corte de 14% (representa cerca de 180 mil euros). Mais dizemos, que o orçamento para 2018 é de 267 mil euros, não os 288 mil euros noticiados.

Relembramos que apesar de até ao momento não termos recebido qualquer verba do financiamento atribuído (resultados para o Teatro só foram homologados esta terça-feira) a CTB tem vindo a cumprir escrupulosamente a actividade a que se propôs na candidatura. Esta semana estreamos “Diário de Adão e Eva”, o segunda estreia deste ano. Fizemos, também, cerca de 40 representações, entre reposições e acolhimentos, no Theatro Circo de Braga e em diversas salas de Portugal e Espanha.

A circunstância do corte no financiamento da CTB conduziu à inevitabilidade da reestruturação - na qual estamos já a trabalhar - de toda a actividade da companhia (novas produções, reposições, acolhimentos, formação de públicos, etc.).

Partilhamos, aqui, a nossa argumentação para a Audiência de Interessados da DGArtes e a resposta que obtivemos.



09/05/18

Estreia de "Diário de Adão e Eva"

Dia 15 de Maio, a Companhia de Teatro de Braga (CTB) estreia “Diário de Adão e Eva”, de Mark Twain, às 21h30, no Theatro Circo de Braga. Esta sexta-feira, será feito um ensaio geral aberto à comunicação social e aos participantes mais antigos nas actividades do projecto de formação de públicos, Bragacult.
A 136ª produção da CTB conta, mais uma vez, com o trabalho do dramaturgo Abel Neves que traduziu, adaptou para cena e dirigiu este espectáculo a partir da obra homónima do autor norte-americano.
Mark Twain escreveu o “Diário de Adão e Eva” nos finais do século XIX, início do século XX. É uma narrativa literária que tendo sido polémica à época da sua publicação propõe uma visão humorada sobre o enlace amoroso dessas duas criaturas bíblicas. Nos dias de hoje, as confidências de Adão e Eva, as suas diatribes, continuam a deliciar os leitores do escritor americano e, espera-se, os espectadores da adaptação teatral que se prepara.
“Diário de Adão e Eva” estará em cena de 15 a 17 de Maio, às 21h30, no pequeno Auditório do Theatro Circo. O espectáculo regressa a cena em Setembro, para mais cinco representações no Theatro Circo e uma no Teatro Gil Vicente de Barcelos.
Eva (Solange Sá) no ensaio de Diário de Adão e Eva | foto: João Vilares
FICHA ARTÍSTICA
autor Mark Twain
tradução, adaptação teatral, espaço cénico e direcção Abel Neves
pinturas Alberto Péssimo
figurinos Filipa Martins
iluminação Nilton Teixeira
construção do cenário e adereços António Jorge
apoio à construção do cenário Fernando Gomes
operação de luzes Vicente Magalhães
operação de som João Chelo
elenco André Laires, Carlos Feio, Eduarda Filipa, Solange Sá


01/05/18

CTB acolhe comédia musical de La Fundición de Sevilha

Quarta-feira, dia 2 de Maio, a Companhia de Teatro de Braga irá acolher La Fundición de Sevilla com a comédia musical “DUELO ATÉ À MORTE DO MARQUÊS DE PICKMAN E O ACONTECEU DEPOIS COM O SEU CADÁVER”, às 21h30, na Sala Principal do Theatro Circo.

Fascinado com o relato dos trágicos acontecimentos que envolveram Rafael e León, Marquês de Pickman, e o capitão da Guardia Civil, Vicente Paredes - no ensaio “Duelo a muerte en Sevilla” de Miguel Martorell - Álvarez-Ossorio decide co-escrever esta obra teatral com o historiador e com Pepa Sarsa, já que para o encenador, tratando-se de “uma história de “machos”, uma luta de galos, era importante uma presença feminina".

Este espectáculo é uma comédia negra e uma crítica mordaz às instituições da época: a Igreja, o Exército, o poder político e a burguesia industrial com título nobiliárquico.

Este acolhimento realiza-se no âmbito do Circuito Ibérico de Artes Cénicas, da qual fazem parte, além da CTB, várias companhias de teatro portuguesas e espanholas.



SINOPSE:
Rafael de León e Primeiro de Rivera, humilha em público o capitão da Guardia Civil Vicente Paredes, o que o leva este a desafia-lo para um duelo até a morte por rumores, quintilhas humorísticas e comentários. E mesmo que as leis civis proíbam este acto desproporcional dos contendores, o massacre ocorre. Após um grande esforço de guerra, o Exército impõe seus critérios e em nenhum momento está sujeito à lei. Mas os factos não terminam aí: a Igreja, apesar de não ter a tutela e o controlo do cemitério, impõe à força a expulsão do cadáver do mesmo e ajudada pela polícia urbana o translada para o cemitério civil.

FICHA TÉCNICA 
texto | texto Pedro Álvarez-Ossorio, Miguel Martorell, Pepa Sarsa
encenação Pedro Álvarez-Ossorio
direcção musical Santiago Martínez
assistente de encenação Pepa Sarsa
cenografia Juan Ruesga
elenco Cristina Almazán, Javier Centeno, Paz de Alarcón, Íñigo Núñez
direcção de actores Juan Carlos Sánchez
trabalho vocal Julia Oliva
figurinos Carmen de Giles, Flores de Giles
desenho de luz Carmen Mori
estilismo Manolo Cortés
máscaras Fau Nadal
desenho gráfico Pedro Cabañas
grafismos de época Rocco Lombardi
fotografia Luis Castilla
vídeo La Buena Estrella
realização da cenografia Mundomontaje
equipa técnica Enrique Galera, Pablo Gil
distribuição Angélica Cruz
comunicação La Fundición / Surnames Narradores Transmedia
direcção de produção Marina Rodríguez
agradecimentos Teatro Clásico de Sevilla, Ana Álvarez-Ossorio / Swot Elipse, Teatro Municipal Mairena del Alcor / Centro de Documentación de las Artes Escénicas de Andalucía / José Manuel Peralta, Mario Copete (A6manos producciones)


06/04/18

Comunicado Performart


ASSOCIAÇÃO PARA AS ARTES PERFORMATIVAS EM PORTUGAL

COMUNICADO 05 de Abril de 2018



Face à “Resposta aberta à Cultura” do Senhor Primeiro-Ministro, a Performart reconhece o esforço empreendido pelo Governo na aproximação à satisfação das reivindicações do setor das artes performativas, nomeadamente no que concerne ao reforço do financiamento disponível para os concursos de apoio às artes ainda em curso e que deve seguir os respetivos trâmites legais até à efetiva, e desejavelmente célere, conclusão.
A Performart manter-se- á empenhada em trabalhar para que os erros do modelo vigente sejam corrigidos, tal como a Tutela anunciou publicamente dever fazer-se, confiando que tal defenderá da melhor forma os interesses de todas as estruturas que a associação representa.
A Performart participará na manifestação convocada para o dia de amanhã defendendo a definição de uma estratégia clara que tenha como patamar mínimo 1% do Orçamento de Estado para a Cultura, horizonte digno e legítimo para um Governo que se apresentou como um “governo da cultura”.
05 de abril de 2018




A Performart

28/03/18

Brinde ao Teatro

É com enorme prazer e gratidão que, no Dia Mundial do Teatro, recebemos as mensagens da Câmara Municipal de Braga e do pelouro da Cultura, de reconhecimento do trabalho e do contributo da Companhia de Teatro de Braga para o desenvolvimento cultural da cidade.

Tocou-nos, particularmente, a calorosa mensagem [abaixo] do Doutor Miguel Bandeira (Vereador do Urbanismo, Planeamento, Ordenamento e Mobilidade) que, em dia de estreia do nosso mais recente espectáculo, Humidade, e no contexto actual da Cultura no nosso país, nos dá um novo alento na prossecução da ideia de que o Teatro torna melhores aqueles que o fazem e aqueles que nos assistem.

Um brinde ao Teatro e a todos quantos amam esta nobre arte!

"Porque hoje é um grande dia, ainda que a hora a que te escrevo seja provavelmente a de função, apenas para te enviar um grande abraço de admiração e amizade pessoal, e a todos os que fazem Teatro na Companhia, em Braga, um projeto consolidado e exemplar de descentralização cultural entre nós. Com o reconhecimento pródigo de quem, como eu, quando cá chegou, não mediu o alcance da obra. Hoje tenho que reconhecer que sem vós, esta terra era culturalmente muito mais pobre, pelos contributos diretos e indiretos têm dado. Parabéns!
Viva o Teatro!!

Abraço forte do Miguel"

Mafalda Canhola e João Delgado Lourenço, em Humidade, de Bárbara Colio (foto João Vilares)

13/03/18

O ARCO-ÍRIS


de Abel Neves

A palavrinha austeridade que tanto valor tem, ou pode ter, nas escolhas que fazemos pela vida fora é demasiado nobre para ficar reduzida a um propósito circunstancial de organização política e social e, posteriormente, cristalizada num escombro de resgate económico. A austeridade tem liberdade dentro mas essa é uma outra história. É absurdo que uma pessoa venha a este mundo para que boa parte da riqueza do seu trabalho seja aplicada na salvação de Bancos e de banqueiros. O capitalismo mais esperto sabe que é possível integrar os que o condenam, fingindo acautelar interesses que não sejam apenas os do lucro e desfalecendo até um pouco no usufruto do valor da mais-valia, criando a ilusão de que parte dele se aplica no reforço de bens sociais necessários, entre eles – vamos agora adiantar - os bens culturais. 

Fácil é compreender que depois de uma época, mais ou menos longa, de compressão, trapalhice e canalhice, emerge uma outra, descompressora, irradiando um arco-íris de ponta a ponta na geografia, relembrando - sem instigar ao saque - que há potes de felicidade no horizonte. Uma época seráfica, pois, em contraponto a um calendário de vergonha em que a vida da maioria das pessoas foi violada, se desbarataram e alienaram recursos sob a protecção de um voto democrático maioritário. Sempre se pensa se alguém com poder político - seja quem for com o dever cívico de ter sido eleito para um cargo público - tem o direito de esbanjar património, ou negociar, para proveito privado – seu ou de outrem - uma riqueza que é de todos, mas a pouco e pouco habituámo-nos ao controlo do Estado por parte de quem quer, efectivamente, regular os comportamentos sociais, e regular para melhor controlar. O dinheiro, o poder que dele emana, continua a ser pensado como um sopro quase divino. 

Existe, por isso e simplesmente, uma ideologia a florir no dinheiro. Pode ser contrariada? Em boa hora houve aqui na Lusitânia um conluio político para uma nova e arejada maioria. Um arco-íris talvez pudesse acender-se na paisagem. Novos e inteligentes pensadores e cientistas da economia e das finanças tomaram conta das contas públicas e afins. Parece não haver qualquer dúvida sobre benefícios que estão a ocorrer na vida colectiva, salvaguardas económicas, crescimentos e optimismos. A feliz propaganda da imagem de uma histórica nação europeia a emergir muito positivamente de um resgate – patrocinado antes por agiotas e vendilhões - um país pacífico e empreendedor, repleto de simpatia e de belezas naturais acessíveis, não distante dessa outra imagem de marca que foi a do "país à beira-mar plantado", gastronomicamente imbatível, pronto a receber qualquer cidadão do mundo depois da triste e desonrosa partida de milhares de qualificados emigrantes, alargou muitíssimo o panorama das possibilidades de evolução e riqueza económica e de desenvolvimento social. Exportações bem sucedidas, e outras que se aguardam, investimentos, muita disciplina social e, sobretudo, o Turismo, vão dando luz e água ao arco-íris. No entanto, ainda que o fenómeno esteja aceso e alguns tentem esbater muitíssimo as suas cores, existe, aquém dos horizontes e além de nós, mas fabricado por uns tantos que se pretendem ocultos por aí, um espectro ideológico. 

E é por agora que a pintura fica borrada porque se a vida faz sentido é com os fenómenos de Cultura e no que diz respeito aos fenómenos de Cultura, a esquerda política actualmente no poder tinha a superior obrigação de ser radicalmente diferente, obviamente para melhor, dos precedentes gestores e funcionários de libré, e mostrar, revelando ideologicamente, que as economias existem porque assim o determina a Cultura. É a Cultura que obriga à existência da economia e não o contrário. Um simples acto de manipular os dígitos numa operação financeira é um acto cultural, de visibilidade quase oculta, mas cultural. O idílico ócio sonhado com o dinheiro não é mais que um aparato também ele de raiz cultural. Por muito que queiram impor-se na vidinha de todos, as descargas sociais da economia nunca terão a grandeza da Arte ou do pensamento filosófico ou religioso. 

Os sistemas económicos vão regendo os artifícios, os mecanismos, é certo, mas a arte e o pensamento dirigem a vida. Então, depois desta borrada nalguma linhas, o que venho aqui dizer? Que é uma vergonha o que se está a passar com a contribuição do governo – que deveria ser uma obrigação de Estado – para com as necessidades de desenvolvimento estrutural das diversas instituições culturais que vêm desempenhando o seu trabalho desde sempre. Há muita realidade desagradável, infeliz, oculta atrás da cortina com que se abrem e fecham os espectáculos artísticos, e em particular os propriamente designados "de teatro", mas não vale a pena sequer pensar que o teatro acabará porque os gregos não o inventaram para que uns quaisquer bichos-caretos o tentem amesquinhar uns séculos adiante, mas também não é porque sabemos que jamais acabará que podemos negligenciar as responsabilidades que nos cabem na defesa da sua evolução e respeito pelo esforço de todos os que aqui vieram antes de nós. 

Para um dramaturgo que sobrevive do acto teatral e dele não pode estar alheado – esperando até ainda que um dia Almeida Garret seja nomeado director do teatro que fundou – a sua expectativa quanto ao respeito que a arte dramática deve merecer dos governos é certamente equivalente à dos outros contribuintes artísticos, dos técnicos aos comediantes. Em legislaturas anteriores, quando as cabecinhas pensadoras decidiram que a Cultura não era merecedora de estatuto ministerial na representatividade governativa, o Carmo e a Trindade foram caindo aos poucochinhos e as actividades culturais lá se viram no constrangimento vergonhoso, mas, claro, tradicional, e se é tradicional num país amigo das tradições a coisa parece que é para valer. Recentemente, o arco-íris deu em subir novamente a categoria e a Cultura virou Ministério e o que estamos todos à espera de saber é a diferença que anda a fazer o dito cujo na relação que se desejaria, no mínimo, saudável com quem se dedica à vida cultural e para que a tal Cultura tenha a luminosidade que se exige, e já agora a responsabilidade, e para a qual – na sua criação e defesa - todos somos, e bem, sistematicamente examinados e avaliados, embora, também sistematicamente, se menorize, a graus que roçam o desrespeito, o trabalho intenso, devotado e qualificado das gentes das artes. 

Não é demais reafirmar que as obrigações constitucionais do Estado para com as actividades culturais não podem depender dos caprichos de um qualquer governo e, sobretudo, devem ser pensadas não como um frete a uns tantos vocacionados, mas como um necessário investimento, valorizando o património e os recursos, garantindo a validade do que já fez e dos que ainda estão, e a qualidade dos que hão-de vir. Um Ministério da Cultura não pode existir apenas porque se diz que existe. É menos que zero se assim for, ou talvez exista como a célebre faca surrealista, sem cabo e sem lâmina. A indesculpável situação criada em volta dos atrasos no apoio às actividades culturais, nomeadamente, teatrais, faz pensar que não há inocência. Há, sim, ideologia. E as ideologias nefastas devem combater-se. E fica bem relembrar o que, então em plena segunda guerra mundial, Winston Churchill, conservador, terá dito a um responsável do governo quando este sugeriu fazer cortes orçamentais no universo da cultura atendendo ao esforço que era necessário fazer por causa da guerra: “Nem pense! – disse o estadista -Então estamos a fazer esta guerra para quê?” Há exemplos que vão alimentando as cores do arco-íris. 

Senhoras e senhores do Ministério da Cultura, falem, digam qualquer coisinha, mexam-se. O que vamos sabendo, publicamente, pelos jornais – e, claro, não se deseja a ninguém - é que o Senhor Ministro teve a infelicidade da sua casa ter sido assaltada. Mais não sabemos, e é muitíssimo pouco. Há males que ficam feitos e uma coisa é certa: se estão a pensar em eleições é bom que pensem que há votinhos que se perdem e que podem decidir muita coisa, mas o problema nem está no votinho: no seu atavismo congénito, o país continua adiado, meio abúlico, afogando-se, mais ou menos iludido, nas ondas avassaladoras do turismo dos ovos-de-ouro. Nas suas paisagens de sedutores litorais – também pasto de startups - ressoam, além do cacarejar das galinhas poedeiras, os discursos bonitinhos para inglês ver, enaltecendo índices económicos, números de crescimento – para o qual, sempre querem fazer esquecer, a Cultura tem acentuado valor – e, aqui e ali, convocando os catedráticos do empreendedorismo mas esquecendo os que trabalham no húmus e mantêm vivo o lume. 

Austeridade, pois, mas por inteligência, devoção e livre vontade, não por martelada nas consciências e por mão alheia, canalha. O teatro sempre cumpre os seus desígnios. De uma vez por todas, deixem-se de poses seráficas e cumpram, vossas excelências, as vossas obrigações.

Foto de Abel Neves.
 "A cigarra e a formiga" - água-forte, Dominique Sornique e Jean-Baptiste Oudry (séc. XVIII)

07/03/18

Mulheres têm entrada gratuita em "Imprudência"

No dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, nós, Companhia de Teatro de Braga (CTB), prestamos homenagem a todas as Mulheres oferecendo a entrada no nosso espectáculo “Imprudência”.

Ivan Turguéniev escreveu, em 1843, “esta pequena paródia sobre o romantismo grandiloquente” a partir (pensamos nós) da sua “pasión española” chamada Pauline Viardot-García, uma mulher enigmática, cantora de ópera, pianista excepcional, casada com um francês. O seu enorme talento fez com que toda a nata da intelectualidade europeia do seu tempo, e de ambos os sexos, se enamorasse devastadoramente dela.

Esta interpretação da CTB centra-se, segundo o encenador, Rui Madeira, nestes tempos “da pós-verdade em que, parece, já só nos resta “assistir à representação do Mundo” interpretada por um grupo de pequenos palhaços baratos, saídos nem sabemos de onde, surgidos do Nada, arrogantes e ufanos de uma grandeza conquistada no desequilíbrio das redes.”

No mesmo sentido, é uma crítica a este perpetuar da visão do séc. XIX sobre o papel da Mulher na sociedade e o contínuo desrespeito pelos seus direitos, a que ninguém pode ficar indiferente e todos temos a responsabilidade de alterar. 

“Imprudência” é 134ª produção da CTB e estreou em 9 de Janeiro, deste ano. Regressa a cena de 6 a 8 de Março e as sessões têm início às 21h30, no Theatro Circo de Braga.

Solange Sá no papel de Dolores, em "Imprudência".

FICHA TÉCNICAautor Ivan Turguénievtradução António Pescada
encenação Rui Madeiraespaço cénico António Jorge, Rui Madeirafigurinos Sílvia Alves
desenho de luz Nilton Teixeira
design gráfico Carlos Sampaiofotografia Paulo Nogueiraelenco André Laires, Carlos Feio, Eduarda Filipa, Rogério Boane, Sílvia Brito, Solange Sá
 agradecimento TUB – Transportes Urbanos de Braga


02/03/18

Oficina de Escrita Teatral dirigida pela autora de "Humidade"

A Companhia de Teatro de Braga (CTB) organiza, de 24 a 26 de Março, em Braga, uma Oficina de Escrita Teatral, dirigida pela dramaturga e directora de teatro mexicana, Bárbara Colio.

Esta Oficina surge como uma actividade complementar à produção do espectáculo Humidade - texto de Bárbara Colio e encenação de Rui Madeira - e insere-se no âmbito do projecto de formação de públicos de teatro da CTB, BragaCult, conta com o apoio do Festival Internacional de Dramaturgia Contemporânea - Dramafest - e da Secretaria de Cultura do México.

Os interessados nesta Oficina – limitada a 12 participantes - terão de ser maiores de 18 anos com alguma experiência em teatro (actuação, direcção, dramaturgia), em escrita ou espectadores assíduos e interessados no tema. Após a confirmação da inscrição, enviaremos os textos de leitura prévia obrigatória, Humedad e Cuerdas, da autoria de Colio.

Os objectivos da Oficina de Escrita Teatral são: onde encontrar histórias; saber o “que” se vai contar; conhecer e experimentar com os elementos da composição dramática, para decidir o “como” se vai contar; provocar o pensamento em função do drama.

Os interessados deverão enviar um email para bragacult@gmail.com, até dia 9 de Março, com os seguintes dados: nome, idade, telefone, profissão.

Os participantes, serão convidados para a ante-estreia de Humidade, dia 26 de Março, às 21h30, no Theatro Circo.


Bárbara Colio  é uma dramaturga e directora de teatro mexicana. Até à data, as suas obras foram lançadas em Espanha, Portugal, França, Nova York, Inglaterra, Itália, Argentina, Peru, Costa Rica, Brasil, e em vários locais do México. Possui mais de 15 publicações, entre as quais "Das famílias e outras catástrofes "(Editorial Paso de Gato). O seu teatro recebeu vários prémios e reconhecimentos nacional e internacionalmente. Em 2017, devido à sua carreira e contribuição para o teatro mexicano, foi galardoada com o prestigiado Prémio Juan Ruiz de Alarcón.




23/02/18

Estreia do novo espectáculo da CTB: HUMIDADE

Março está a chegar e com ele, também a Primavera e os dias maiores de temperaturas amenas. Estamos, porém, em Braga, que é uma cidade conhecida, entre outras coisas, pela muita chuva. O aquecimento global tem-se encarregado de baralhar muito as coisas. Não obstante, no próximo mês, teremos na Cidade dos Arcebispos, com certeza, HUMIDADE.

Estreia no Dia Mundial do Teatro (27 de Março), no Theatro Circo, a 135ª produção da Companhia de Teatro de Braga (CTB), escrita pela dramaturga e directora de teatro mexicana, Bárbara Colio.

HUMIDADE é sobre um casal que, vindo “dos outros lados do mundo, “desencontram-se” num hostel de uma cidade húmida (Braga, Santiago). Cruzamentos de vidas em viagem, presas pela chave da porta. A fobia do encontro no enquadramento da foto, a vontade de representar no Skype e a solidão que a chuva miudinha acentua. Parafraseando Hopper, não existe uma distância demasiado fria. A coisa foi vista. O tempo parou. E os personagens vivem um acontecimento apaixonante, num quadro do desespero da nossa contemporaneidade.”

O espectáculo é encenado por Rui Madeira e conta com a prestação de dois jovens actores que integraram recentemente o elenco permanente da CTB, Mafalda Canhola e João Delgado Lourenço.

Room In New York (Edward Hopper)
A produção tem, também, o apoio do Festival Internacional de Dramaturgia Contemporânea e da Secretaria de Cultura do México.

Pralelamente à produção do espectáculo existem duas actividades complementares: a primeira, é uma Oficina de Escrita Teatral, dirigida por Bábara Colio, e destinada a 10 participantes, portugueses e galegos, no âmbito do projecto de Formação de públicos da CTB, BragaCult, de 23 a 25 de Março.

A segunda, é o acolhimento internacional, numa parceria com o Município de Braga, para o Festival Mimarte, dia 5 de Julho, do espectáculo ARIZONA, pela companhia Teatro de Babel, México, sobre o problema das fronteiras entre os EUA e México, dirigido pelo seu director Ignacio Garcia.

OUTRAS DATAS
Ante-estreia 26 de Março 21h30
Estreia 27 de Março (Dia Mundial do Teatro) 21h30
28 e 29 de Março 21h30
3 e 4 de Abril 21h30

FICHA ARTÍSTICA

autor Bárbara Colio
tradução Ivonete da Silva Isidoro
encenação Rui Madeira
cenografia Acácio Carvalho
figurinos Manuela Bronze
iluminação Nilton Teixeira
som Pedro Pinto
vídeo Frederico Bustorff Madeira (Maria Augusta Produções)
elenco João Delgado Lourenço, Mafalda Canhola

20/02/18

"Amor de Perdição" em Vila Verde

No próximo dia 26, a Companhia de Teatro de Braga (CTB) apresentará para o público escolar de Vila Verde o espectáculo “Amor de Perdição”, a partir do texto de Camilo Castelo Branco.

O espectáculo, com encenação de Sílvia Brito, terá duas sessões (14h30 e 17h00) no auditório da Academia de Música de Vila Verde.

Amor de Perdição estreou no dia 18 de Outubro de 2017, no Teatro da Escola Secundária Sá de Miranda, em Braga.

Fotografia de cena da estreia de "Amor de Perdição"

Depois de, em 2016, ter estreado a tragicomédia "Justiça", a CTB regressa a Camilo Castelo Branco. Segundo Sílvia Brito, trata-se de um “espectáculo-aula, destinado ao circuito escolar, um dos vectores de criação da CTB, este espectáculo expõe mecanismos da prática teatral (leitura, análise literária e dramatúrgica, construção da personagem e criação da cena) que contribuem para estimular o gosto pela leitura, veiculando os parâmetros e metas para a “Educação Literária” do programa de Português.”

A 133ª Produção da CTB é um espectáculo para maiores de 12 anos e tem a duração aproximada de 80 minutos, sem intervalo.

FICHA ARTÍSTICA:
autor: Camilo Castelo Branco
encenação e fixação de texto: Sílvia Brito
cenografia: António Jorge
figurinos: Manuela Bronze
caderno pedagógico: Ana Cristina Oliveira, Céu Costa, José Barros, Paulo César
elenco: André Laires, António Jorge, Carlos Feio, Eduarda Filipa, Rogério Boane, Solange Sá

03/01/18

GUIDA MARIA


Foi com enorme pesar e estupefacção que recebemos a notícia deste último acto da vida de uma grande actriz, Guida Maria, com quem nós, CTB, tivemos o prazer de trabalhar em diversas ocasiões.

Uma perda para familiares e amigos, com quem nós nos solidarizamos neste momento. Mas é, também, uma perda de todos, porque como Clarice Lispector nos disse: “Meu mundo é feito de pessoas que são as minhas – e eu não posso perdê-las sem me perder.”


Dos trabalhos que a Guida Maria fez com a CTB destacamos Antes da Reforma (1999), de Thomas Bernard, e Algumas Polaroids Explícitas (2003), de Mark Ravenhill.

No próximo dia 9 de Janeiro, antes da estreia de Imprudência, no Theatro Circo, faremos uma pequena homenagem a esta grande actriz.